Entrevista a Santinho Pacheco
  • 11.11.2021
  • PS
  • Guarda
  • XIV Legislatura

11.11.2021

XIV Legislatura

Guarda

PS

António José Santinho Pacheco

Santinho Pacheco, natural da bonita aldeia de Vila Franca da Serra, é um dos 3 deputados eleitos pelo círculo da Guarda com assento na atual Legislatura da Assembleia da República. Apesar de ter tido sempre uma vida muito atribulada, inclusive com passagens por Angola e Moçambique, confessa que nunca perdeu os laços de afeto com a aldeia que o viu nascer: “a nossa terra é sempre a terra mais bonita do mundo”.

Em Vila Franca da Serra, freguesia do concelho de Gouveia, fez a instrução primária, “num tempo muito diferente”, que se caraterizou sobretudo pela presença de muita população nas Beiras, apesar da pobreza e das más condições de vida que mais tarde levou a grande maioria a emigrar, sobretudo para França.

Mais tarde acabou por ir com a sua família para a Zambézia, em Moçambique, onde estreou o Liceu João Azevedo Coutinho e estudou até ao 5º ano. Aos 14/15 anos regressou a Gouveia, tendo posteriormente estudado 2 anos em Viseu. Em 1970/71 entrou na Faculdade de Direito de Coimbra e com 20 anos iniciou o serviço militar obrigatório contra a sua vontade. Estava precisamente em Angola quando recebeu a notícia da Revolução do 25 de Abril, tendo regressado a Portugal no ano seguinte.

Foi Professor de História Portuguesa em Gouveia ao mesmo tempo que se tornou “um cidadão muito ativo”, tendo pertencido ao rancho folclórico e à banda de música. Em 1976 entrou nas listas do Partido Socialista e passados uns meses era Presidente da Assembleia Municipal. Nas eleições seguintes foi eleito Presidente da Junta de Freguesia de Vila Franca da Serra, cargo a que teve de renunciar por na altura estar a dar aulas em Gouveia. Foi, no entanto, convidado a assumir o cargo de vereador da Câmara Municipal do Concelho.

A Desertificação do Interior do País

Em 1982 Santinho Pacheco foi eleito Presidente da Câmara Municipal de Gouveia, agindo segundo o seu lema: “O autarca tem de ter como função principal servir”. Desde cedo identificou uma grande necessidade de investimento numa província onde “não havia nada, onde havia miséria e fome”. Revela também que a extinção do cargo de Governador Civil, o qual ocupou no distrito da Guarda durante dois anos, está muito ligada ao esquecimento a que foi votado o interior. Isto porque a existência de um Governador Civil, um “representante do governo no distrito”, assegurava a existência de políticas de coordenação como a prevenção de incêndios e a manutenção de estruturas.

Alerta para o facto de o distrito da Guarda neste momento estar a perder a sua identidade histórica e a sua unidade e de a desertificação estar a contribuir para a perda de um dos produtos mais emblemáticos do país – o queijo da serra – graças à insuficiência de cabeças de gado, à escassez de mão-de-obra na região e aos pastos queimados pelos incêndios. Diz também que é natural que não exista iniciativa empresarial nos grandes concelhos do interior (Castelo Branco, Bragança e Covilhã) onde 60 a 70% da população tem mais de 60 anos e vive da dependência das IPSS.

O deputado confessa também que a introdução de portagens, que considera ser uma “barreira artificial que se coloca entre o litoral e o interior” são um obstáculo à tentativa de levar população para as Beiras, tornando o interior ainda mais isolado e ainda mais esquecido. Nesse sentido, Santinho Pacheco considera que não existe sensibilidade política nem força que consiga atrair investimento enquanto os políticos não ignorarem a cor do seu partido e começarem a trabalhar juntos no mesmo sentido.

Questionado sobre o seu maior sonho, o deputado é categórico: “Que a minha terra não desaparecesse”, responde francamente. Um sentido de pertença para o qual muito contribuiu a gastronomia da região e o livro que mais o marcou - A Lã e a Neve, de Ferreira de Castro -, que fala de Gouveia mas que se passa sobretudo em Manteigas e na Covilhã, e que mostra a história de vida de toda uma população do interior na personagem de um pastor, que tem a ambição de chegar a operário.

Artigo escrito por Mónica Mota, colaboradora do projeto Os 230.

Nome Completo

António José Santinho Pacheco


Data de Nascimento

01/09/1951


Habilitações Literárias

  • Frequência de Licenciatura em Frequência 5º ano faculdade de Direito da Universidade de Coimbra


Profissão

Professor


Comissões Parlamentares

  • Comissão de Assuntos Europeus [Suplente]
  • Comissão de Agricultura e Mar
  • Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar à atuação do Estado na atribuição de apoios na sequência dos incêndios de 2017 na zona do Pinhal Interior [Suplente]
  • Comissão Eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia da doença COVID-19 e do processo de recuperação económica e social [Suplente]