Prefere falar no coletivo, mas reconhece que, como comunista, procura “a transformação para uma sociedade onde não haja exploração, onde todos nós possamos viver de cara erguida, de uma forma digna”.

João Pimenta Lopes foi entrevistado em Estrasburgo para Os 21, projeto d’Os 230 que tem como intuito conhecer os deputados eleitos por Portugal para o Parlamento Europeu.

Deputado do Partido Comunista Português, cumpre o segundo mandato na instituição europeia, sempre em substituição de outros deputados: em 2016 substituiu Inês Zuber e, em 2021, o eurodeputado João Ferreira. É membro do Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica (GUE/NGL).

Cresceu na Amadora, na periferia de Lisboa. Os pais são militantes do PCP e tinham uma intervenção política e sindical que lhe permitiu acompanhar a realidade mundial e nacional, estar atento às injustiças e criar “uma perceção alargada do mundo onde vivia”. Ainda em criança residiu três anos em Moçambique onde assistiu de perto às convulsões sociais e políticas que se viviam na vizinha África do Sul.

Juntou-se à Juventude Comunista com 17 anos. Biólogo de profissão, estudou na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa onde foi bolseiro de investigação científica. Reconhece que a academia foi “uma experiência tremenda, muito devido à participação no movimento associativo e ao envolvimento com outros colegas na análise de problemas concretos”, como a implementação das propinas, o desinvestimento no ensino superior e a precarização dos investigadores.

A posição crítica face ao “rumo” da integração europeia

Como eurodeputado, integra a Comissão de Transportes e do Turismo. Sobre esta temática, critica o desinvestimento português e europeu na produção nacional. Lembra que em Portugal, concretamente na sua terra, Amadora, havia “uma indústria de grande importância para o país de produção de material circulante, comboios e carruagens”, mas que com “o processo de liberalização da União Europeia” houve uma concentração da produção em países como Alemanha e França, levando ao encerramento dessa fábrica e a um “défice estrutural muito grande” na ferrovia nacional, com impacto na mobilidade e na coesão territorial.

A força do mar

João Pimenta Lopes foi diretor técnico e administrador do Fluviário de Mora e membro da direção da Mútua dos Pescadores entre 2009 e 2017. Não seria estranho que integrasse a Comissão das Pescas.

Na entrevista, lembra que “temos uma das maiores costas na União Europeia, temos a maior zona económica exclusiva da União Europeia e uma das maiores do mundo. Poderá ser até uma das 5 maiores do mundo se for alargada à extensão de 200 milhas desde a plataforma continental”.

“Tal como se deixou de produzir comboios, Portugal não produz hoje uma embarcação” afirma, criticando o desinvestimento apesar de todo o discurso em prol da economia do mar e lembrando o relatório pelo qual o PCP foi responsável sobre a pesca de pequena escala que constitui 90% da pesca praticada em Portugal.

Sair da “bolha”

Da sua experiência no Parlamento Europeu, refere a “dinâmica absorvente da máquina gigantesca que nos leva a estar com atenção  permanente a dezenas de ficheiros” que com muita facilidade os coloca “numa bolha”.

Realça, por isso, a importância de sair para o terreno, “conhecer no concreto os problemas reais das pessoas, de como as políticas impactam”. É esse contacto muito próximo com a população que os eurodeputados, “de conhecermos a realidade, de sentirmos também os problemas, ouvirmos os problemas de voz direta, que nos dá força mas também cria as condições para intervir aqui [no Parlamento Europeu] com propostas concretas”.

Artigo escrito por João Marques, colaborador do projeto Os 230